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Fernando Távora: a Penha, o hotel e o ascensor

Fernando Távora: a Penha, o hotel e o ascensor

Em 1938 Magalhães Couto chega à presidência da Câmara Municipal de Guimarães. Nascido em Felgueiras mas residente em Guimarães por obrigações militares do qual era oficial do exército, torna-se, com o passar dos anos, num dos mais ativos cidadãos. A sua condição de militar impõe-lhe um pensamento orientado para a primazia das coisas do Estado. O seu plano enquanto presidente da Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Guimarães tem, por isso, a marca de muitas obrigações para a edilidade. Todavia não consegue levar as suas ideias avante. Crítico do monopólio da distribuição da luz elétrica por Bernardino Jordão, acaba por ser exonerado fruto do imenso poder de Jordão em Lisboa. 

A partir de 1940 passará a dirigir o Grémio da Lavoura mantendo assim a sua presença na geografia associativa vimaranense. No rescaldo da segunda guerra mundial, período em que grassa a fome em Guimarães, será o Delegado da Intendência Geral dos Abastecimentos no concelho entre 1946 e 1951. A partir de 1953 até 1957, como deputado, representando o círculo de Braga, fará um total de dez intervenções na Assembleia Nacional. 

Aos 70 anos de idade, feitos em 23 de novembro de 1958, Magalhães e Couto reforma-se. Fruto da sua natureza empreendedora teve dificuldades em aceitar um resto de vida confinado à passagem do tempo entre dias pintados de cinzento. Ligado à Penha, entende que a montanha carece de um bom plano de negócios. 

E, assim, desenha uma sociedade com a “designação de Empresa do Hotel e Ascensor de Nossa Senhora da Penha, S.A.R.L.”, cujo objeto é a “construção de um hotel em vários pavilhões conforme o projeto superiormente aprovado e a montagem de um Ascensor no trajeto Guimarães-Penha-Guimarães, para serviço do Hotel e do público e a exploração conjunta do Hotel e do Ascensor”. Redige os estatutos para a imaginada sociedade anónima em 21 pontos, de onde prevê um capital social de 32 mil contos, dividido em “32 mil ações no valor nominal de mil escudos cada uma das quais 7 mil são privilegiadas e as 25 mil restantes são ordinárias”. As ações privilegiadas, apesar de transacionáveis, sê-lo-ão apenas e enquanto estiverem na posse da Irmandade ficando esta, entre outros, com o direito a 10% dos lucros anuais da sociedade. 

A partir desta ideia Magalhães Couto contacta um arquiteto capaz de dar forma às suas ideias. Convida assim um jovem arquiteto, Fernando Távora para fazer o projeto. Em carta datada de 30 de março de 1959, o arquiteto Fernando Távora de seu nome, “satisfazendo o pedido” de José Maria Magalhães e Couto, Távora desenha e anexa o “Projeto do Ascensor da Penha”. 

Este projeto inspira o passo seguinte, consubstanciado numa missiva a D. António Bento Martins Júnior, onde são dissertados os fundamentos do projeto. Uma extensa carta de três páginas invoca praticamente todos os argumentos possíveis para conseguir a anuência do arcebispo. Desde logo o facto da Estância da Penha ser “um importante elemento para o progresso da cidade (…), um grande atrativo turístico e juntar a monumentos arqueológicos, históricos e artísticos [onde se pode notar] o “aprazível encanto de muitos dos seus locais, a grandiosidade e beleza das paisagens que se disfrutam, o ar puro e impregnado de misticismo que se respira”, características responsáveis pelo facto de “qualquer manifestação cultural, artística ou religiosa” realizadas em Guimarães “raríssimas vezes” não começarem ou acabarem no Santuário da Penha. 

A seu ver, essas são “as ocasiões que mais se nota “a falta de instalações que tornem menos difíceis uma visita e mais agradável uma permanência”, sendo então que se “sentem mais acerbamente as dificuldades das comunicações, as deficiências dos transportes, o antiquado, o acanhado e talvez até miséria das instalações hoteleiras ali agora existentes”. Ora impõe-se assim um hotel na Penha, “já consagrada por uma zona de turismo”. 

O plano do ex-presidente da Câmara admite um hotel com um total de 200 quartos, “para diferentes classes de turistas ou de peregrinos”. E, explica, “além da construção do hotel tem de encarar-se também a montagem de um ascensor que possa garantir em qualquer ocasião, sob quaisquer condições de tempo, comunicações e transportes fáceis, económicos e permanentes”. 

O projeto do ascensor prevê, desde logo, “carruagens aquecidas e com ar condicionado para que o transporte Guimarães-Penha-Guimarães se possa realizar com qualquer tempo e sempre nas melhores condições de abrigo, comodidade e facilidade” cuja função seria o de “servir além do grande público, a clientela privativa do hotel”. 

Recorde-se que a Mesa Gerente da Irmandade da Penha deliberou, em junho de 2024, avançar com o projeto de reabilitação do Hotel da Penha, um imóvel de 1893 que, atualmente, apenas funciona como restaurante, estando em curso as respetivas diligências.

A Irmandade e a autarquia, têm mantido contatos no sentido de serem encontradas as melhores soluções para viabilizar o projeto de requalificação da autoria conceituado Arquiteto Noé Diniz.

Domingos Bragança, presidente da edilidade, em declarações ao Alto da Penha (02.julho.2024), considerou que “a reabilitação do Hotel da Penha é muita necessária e urgente para a disponibilidade de permanência de quem nos visita, em ambiente religioso e de montanha. É ainda importante para a consolidação da estância da Penha como atração turística e de património natural, imprescindível para a afirmação de Guimarães como cidade que cuida do seu património e que promove a sua paisagem natural, neste caso, classificada como Património Nacional“.

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